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terça-feira, 16 de abril de 2013

O QUADRO DE PANO

Conto tibetano, autor desconhecido




Era uma vez, em uma região árida no pé das montanhas uma pobre viúva que tinha três filhos.
O maior não prestava para grande coisa e tão pouco o segundo. O caçula que era filho carinhoso e trabalhador que sempre procurava ajudar a mãe no que podia. A mãe ficava tecendo o dia todo. Levava seus tecidos prontos para a feira de uma cidade vizinha, recebendo em troca dinheiro suficiente para comprar comida para ela e para os filhos. O caçula costumava catar lenha em uma floresta próxima, enquanto os outros dois irmãos ficavam espreguiçando-se ao sol, esperando que mãe providenciasse comida. Um dia a mãe acabou de vender seus brocados um pouco mais cedo que o de costume e foi então dar uma volta pela ferira. Seus olhos pousaram numa linda tela pendurada numa loja. Era um quadro reproduzindo uma montanha parecida com a que havia atrás de sua aldeia. Só que perto dela, em vez de cabanas pobres, havia um grupo de lindas casas limpinhas. Entre elas, a mais bonita, era uma casa de andares, situada no meio de um jardim atravessado por um riacho prateado que formava um pequeno lago no qual se agitavam peixinhos vermelhos. Aves de galinheiro ciscavam aqui e acolá e belas ovelhas brancas pastavam nas ladeiras das montanhas. Campos de milhos dourados se estendiam a perder de vista. Culminando esta tela idílica, havia no topo da montanha, um grande sol de fogo. A mãe ficou pasma com a beleza do quadro e não se cansava de olhá-lo. Tirou todo o dinheiro que tinha no bolso e que acabara de receber pelos próprios tecidos e comprou o quadro. “Só uma vez”, pensava, “não será tão terrível. Na próxima vez comprarei alguma coisa melhor para os meus filhos”. No caminho, parava de vez em quando para desenrolar o quadro e admirá-lo. Como as casas brilhavam! Como o riacho cintilava! Tendo até impressão de que podia sentir o perfume das flores que embelezavam o jardim. Nunca tinha se sentido tão feliz em toda a sua vida.
Em casa, a mãe pendurou o quadro perto da porta. Não conseguia tirar os olhos de lá. Os dois filhos maiores resmungaram e acharam ridículo gastar tanto dinheiro só para comprar um quadro. Mas o caçula declarou: “Gostaria que você tivesse uma casa parecida com a desse quadro, mamãe. Com um jardim igualzinho. Se eu fosse você, teceria um quadro de pano usando esse aqui como modelo. Enquanto você estiver tecendo a casa, as flores, o riacho e as galinhas, você terá a impressão de já ser dona de tudo isso.”
– Não fique pondo essas ideias na cabeça da mamãe! Se ela começar a tecer por prazer onde é que nós vamos encontrar dinheiro pra viver?”
– É claro, se a mamãe quer viver como uma grande dama, que espere pela outra vida.
No entanto, a ideia do filho caçula a seduzia.
– Não temam meus filhos, que eu vá prejudicá-los. Vou tecer à noite e de manhãzinha para meu prazer e o resto do dia para alimentá-los. Até agora alimentei vocês e vou continuar fazendo.
Então, ela comprou os fios mais lindos e se pôs a tecer.
A mãe passou um longo ano, sentada, tecendo. De noite acendia uma tocha cuja fumaça provocava lágrimas em seus olhos. Uma a uma, as gotas cristalinas caiam sobre o pano que estava tecendo e ela, as ia incorporando ao quadro. Foi assim que teceu o lago e o riacho, com suas lágrimas. No segundo ano os pobres olhos da mãe estavam tão irritados que até sangravam, e eram lágrimas vermelhas que caiam sobre o brocado. A mãe as ia incorporando ao quadro, tecendo flores vermelhas e o sol, que iluminava o céu. No terceiro ano o quadro estava terminado. Continha tudo o que estava no modelo: uma região cheia de verduras no pé da alta montanha, casinhas que pareciam de prata, campos de milho dourado, jardins com legumes, árvores frutíferas, arbustos floridos, e, na beira da aldeia, no lugar da pobre cabana da mãe, havia uma grande construção, com colunas vermelhas, portas amarelas e telhado azul. Atrás da casa, nas ladeiras verdes da montanha, pastavam ovelhas, búfalos e vacas. Pintinhos amarelos e patinhos brincavam na grama e pássaros cruzavam o céu em voo rápido.
Em primeiro plano havia um jardim cheio de árvores e flores brilhantes e no centro um laguinho com peixinhos vermelhos. Um riacho prateado atravessava os campos de arroz. Atrás da aldeia, havia campos de milho dourado e, bem acima, um sol de cobre que brilhava num céu azul.
A mãe enxugou os olhos avermelhados e exibiu um sorriso de satisfação.
– Venham ver como estão bonito, meus filhos!
– Quanto dinheiro dariam por isso, heim. Se você o vendesse... – disse o filho mais velho.
– Por uma coisa assim você poderia ganhar uma bela soma! – completou o do meio.
– A nossa mãe construiu uma casa de seda para nós, vamos contemplá-la! Vivemos nela em pensamento!
– Teci este quadro para o meu prazer e não quero vendê-lo, mas aqui na penumbra não se enxerga muito bem tudo o que há nele. Vamos levá-lo para fora, para a luz do dia.
A mãe pendurou o quadro fora da casa e todas as cores ficaram mais intensas. Lá, à luz do dia, é que se podia ver realmente o quanto era bonito o quadro. Os vizinhos vieram admirá-lo e cada um cumprimentava a mãe que sorria de felicidade. De repente, ela sentiu no rosto a carícia de uma brisa leve. O pano de seda balançou. Um vento mais forte o sacudiu como um tapete do qual se tira o pó, e por fim, ele foi arrancado da porta de onde estava pendurado.
Num instante, o quadro saiu voando pelos ares. A mãe deu um grito e desmaiou. Os filhos procuraram por toda redondeza, mas ninguém encontrou o quadro de pano da mãe.



Depois do sumiço, a mãe começou a vagar como uma alma penada. O caçula tentava consolá-la como podia, preparando sopas de gengibre, mas a mãe ia definhando rapidamente. Depois de algum tempo, a mãe falou para o filho mais velho:
– Filho, se você quer que eu viva, vá procurar o meu quadro de pano e o traga de volta. Sem ele é como se eu tivesse perdido uma parte da minha vida.
O filho calçou suas sandálias e saiu em direção ao leste. Andou meses a fio até chegar a um desfiladeiro onde havia uma casinha de pedra. Na frente da casa havia um cavalo esticando pescoço em direção a uns morangos.
Por que o cavalo não come os morangos? Por que será que ele fica assim esticando o pescoço e de boca aberta?
Ao se aproximar constatou que o cavalo era de pedra. Ficou muito surpreso com isso. Enquanto estava lá, contemplando o cavalo, estarrecido, uma velha sorridente saiu da casa de pedra.
– O que você está procurando, meu filho?
– Eu estou procurando um quadro de pano que nossa mãe teceu. Nele tinha... Minha mãe tinha reproduzido uma paisagem... Uma casa, um riacho, um jardim, aves, o sol, flores... Olha, pra ela fazer este quadro não comemos bem durante anos. Mal ela acabou de tecê-lo, o vento o levou Deus sabe pra onde. Mamãe me pediu para procurá-lo. Por acaso não sabe onde ele está?
– Sim, sei. Foram as fadas da montanha ensolarada que pegaram emprestado o quadro. Querem usá-lo como modelo para tecerem um brocado igualmente bonito.

– Fico feliz em saber para onde dirigir meus passos para reencontrá-lo. A senhora poderia me indicar o caminho da montanha ensolarada? Quero ir logo lá, assim vou ficar tranquilo.
– É fácil dizer, mas difícil de realizar. Só se pode chegar lá montado neste cavalo aqui.
– Mas este cavalo é de pedra!
– Pouco importa. O cavalo voltará à vida assim que você implantar seus dentes nas gengivas dele, para que ele possa comer os morangos. Se você quiser, eu te ajudo a arrancar seus dentes com aquela pedra. Mas isso não é nada. O cavalo fará você atravessar as chamas de um vulcão e o gelo de uma geleira. E só depois, além do mar, você vai encontrar a montanha ensolarada e as fadas. Agora, se durante o percurso, você suspirar uma vez apenas, as chamas vão reduzi-lo a cinzas. Os pedaços de gelo da geleira vão quebrá-lo todo e as ondas do mar vão afogá-lo.
O filho mais velho recuou dois passos olhando para o caminho por onde tinha vindo.
– Se você não estiver disposto, não se esforce. Melhor voltar para casa. Eu vou lhe dar uma caixinha cheia de moedas de ouro para a sua caminhada.
– A senhora vai me dar, sem mais nem menos, essas moedas? Sem nada em troca?
– Sim! Assim por nada. Ou, se você quiser, para que você coma e não sinta fome.
– Hum... De fato, é verdade. Eu prefiro voltar pra casa. – Pegando as moedas de ouro e sumindo pelo mesmo caminho do qual tinha vindo. – Para uma pessoa apenas essas moedas são suficientes. Mas para quatro, são poucas. É melhor eu ir à cidade do que voltar pra casa.
Vou viver como um senhor. – E tomou o caminho que levava à cidade.
Vendo, com o tempo, que o filho mais velho não voltava um dia a mãe falou para o segundo filho:
– Seu irmão está viajando Deus sabe onde. Sem dúvida se esqueceu de nós. Vá, meu filho, vá ver se encontra meu belo quadro de pano.
O filho do meio calçou suas sandálias e se pôs a caminho. Andou um dia, uma semana, um mês e chegou à casinha de pedra. Viu o cavalo de pedra esticando o pescoço em direção aos morangos. A velha apareceu à porta, perguntando:
– Que bons ventos o trazem por aqui, meu filho?
– Estou procurando um quadro de pano que minha mãe teceu... O vento o levou.
– Seu irmão mais velho já passou por aqui, mas teve medo de reconquistar o quadro de pano, porque teria que atravessar chamas e geleiras montado naquele cavalo.
– Mas é um cavalo de pedra!
– Se você me deixar arrancar seus dentes com uma pedra, para implantá-los no cavalo ele reviverá. Comerá os morangos e poderá levá-lo até as fadas da montanha ensolarada que lhe irão devolver o quadro.
– Há! Era só o que me faltava! Deixar extrair meus dentes! Prefiro voltar pra casa!
– Neste caso, vou lhe dar um cofrezinho cheio de moedas de ouro. Seu irmão também as recebeu.
– Ah... Então foi por isso que meu irmão não voltou pra casa. E fez bem! Aproveitou melhor o seu dinheiro em outro lugar.
Então o irmão do meio pegou a caixinha com as moedas de ouro que lhe oferecia a velha e agradeceu educadamente, pensando em sumir o mais rapidamente de lá e ir direto à cidade.
– Ulula! Agora eu vou aproveitar a vida! Por que eu iria repartir com os meus irmãos?
Ao cabo de um mês a mãe chamou o caçula e lhe disse:
– Filho me sinto fraca como uma mosca e se não encontrar o meu quadro, creio que não vou resistir por muito tempo mais. Meus dois filhos maiores devem estar passeando quem sabe onde! Sem dúvida se esqueceram de nós. Em você sempre tive mais confiança. Vá a procura de meu quadro!
O filho caçula calçou suas sandálias e partiu. Chegou ao desfiladeiro em frente a casinha de pedra e do cavalo de pedra com a cabeça esticada para os morangos. Na porta da casa se encontrava a velha que parecia esperar por ele.
Ela o recebeu dizendo:
– O caminho que leva para o quadro de pano é difícil. Os seus irmãos maiores preferiram receber de mim uma caixinha com moedas de ouro e ir gastá-las na cidade.
– Eu não temo nada! Eu não preciso de ouro! As moedas de ouro não irão devolver a saúde à minha mãe. Mas que devo fazer eu para recuperar o quadro de pano?
A velha explicou ao caçula o caminho que atravessava as chamas e o gelo. Também lhe disse que poderia reanimar o cavalo se arrancasse os próprios dentes e os implantasse na boca do cavalo. Mal acabara de lhe dar esta explicação, o rapaz já tinha apanhado uma pedra, quebrando seus dentes e implantado na boca do cavalo. O cavalo se reanimou, comeu os morangos e o rapaz montou nele partindo imediatamente.
– Não se esqueça: não pode dar nenhum suspiro! Mesmo que as chamas estejam queimando você ou o gelo ferindo seu corpo, se não você vai morrer.
Ofegante, o moço cavalgava cada vez mais para o interior do rochedo até chegar a um lugar cheio de chamas que saiam das entranhas da terra. As chamas o queimavam, mas ele não deu nenhum suspiro. Já estava achando que as chamas iriam acabar com ele, quando o cavalo deu um grande salto e eles foram parar num caminho bem estreito e bem sombrio.
Incitando depois, de novo, o cavalo, para continuarem a corrida. Andaram assim por muito, muito tempo, até que o rapaz começou a sentir um ar gelado. Ao longe, ouvia-se um barulho estrondoso. Mas uma vez deu uma esporada no cavalo. Corriam como o vento quando de repente o caminho estreito entre as rochas se abriu. O cavalo parou de supetão. O rapaz começou a tremer de frio. Olhando em volta, até onde a vista podia alcançar, só se via gelo.
Era uma imensa geleira com enormes icebergs ameaçadores que se chocavam com grande estrondo. Do outro lado da geleira, avistava-se bem longe, uma alta montanha verde.
– É a montanha ensolarada! Rápido cavalo! Estamos quase chegando!
O cavalo, sem hesitar, jogou-se nas ondas geladas. Aquele gelo movediço queimava e feria a pele do cavaleiro, mas o rapaz serrou a boca e não deixou nenhum suspiro escapar de seus lábios. Quando já estava quase se afogando, o cavalo conseguiu alcançar a margem. O bom sol secou as roupas, secou as feridas e, antes que ele pudesse compreender o que se passava, já se encontrava no topo da montanha.
Diante de seus olhos, brilhava um palácio de cristal e, vindos do jardim, ouviam-se risos e cantos de umas jovens. O rapaz entrou pelo portal de honra do pátio e apeou do cavalo. Viu à sua frente um grupo de belas moças ocupadas em tecer um pano. No meio delas encontrava-se o quadro de sua mãe..... 


Ao perceberem o rapaz as moças abandonaram seus teares e vieram ao seu encontro, rindo.
Uma delas, bem miudinha, com um vestido vermelho encantou-o particularmente. A seguir, uma bela dama aproximou-se do rapaz. Ela usava um vestido brilhante como os reflexos do sol no mar. Seus cabelos compridos estavam presos por um pente de ouro.
– Sou a rainha das fadas. Nunca ninguém vem aqui. Por que você empreendeu esta viagem tão cheia de perigos?
– Vim a procura do quadro de pano de minha mãe. O vento trouxe-o até vocês e minha mãe ficou doente por causa disso.
– Não foi por mero acaso que o vento levou o quadro de pano de sua mãe, fomos nós que ordenamos que ele fizesse isso. Queríamos nos servir dele como modelo para tecermos também um lindo quadro. Se você puder emprestá-lo por mais esta noite, amanhã poderá levar embora. Enquanto isso você é nosso hospede.
O rapaz parecia viver um sonho. As fadas o rodearam rindo e fizeram com que ele provasse o néctar e a ambrosia, como convém aos imortais. Logo em seguida continuaram seu trabalho.
Ficaram tecendo a tarde toda. Ao cair o crepúsculo, suspenderam no teto uma pérola que brilhava na noite para poderem continuar tecendo até meia-noite. O rapaz estava esgotado de tantas emoções e adormeceu sem perceber. Enquanto isso, as fadinhas acabavam uma após outra, seu trabalho no tear, indo se deitar. Somente a mais jovem ficou acordada, aquela que tinha agradado ao rapaz à primeira vista. Ela ficou olhando o quadro da mãe. Nenhuma fada tinha conseguido tecer um quadro tão lindo como aquele. Nenhum riacho brilhava tanto como aquele que tinha sido tecido com suas lágrimas e, nenhum sol queimava tanto quanto ao que fora tecido com as lágrimas do sangue dela. A jovem olhou o rapaz adormecido e teve uma ideia. Pegou um fio e bordou no quadro da mãe uma fadinha de vestido vermelho, em pé, perto do lago, olhando para os peixes vermelhos.
O rapaz acordou a meia-noite, a sala estava vazia. Só havia lá o quadro tecido por sua mãe.
Ficou um pouco admirado e depois pensou:
– Por que esperar até amanhã? Minha mãe está doente e seu estado piora a cada dia.
Enrolou, pois, o pano, colocou o casaco, montou no cavalo e se pôs a caminho. Foi em vão que as ondas do mar lançaram nele os maiores gelos e que as chamas do vulcão tentaram engoli-lo. O rapaz não deu suspiro nenhum e, antes que pudesse se dar conta, estava na frente da casinha de pedra. A velhinha já estava espiando sua chegada pela porta.
– Estou feliz de vê-lo de volta, rapaz. Você é um menino bom e valente. Você conseguiu o que queria. Vou devolver-lhe seus dentes.
Retirou os dentes do cavalo e os reimplantou na boca do rapaz. No mesmo instante, o cavalo virou pedra.
– Pegue estas sandálias de pele de cervo. Ao calçá-las você retornará à sua casa no mesmo instante.
O rapaz agradeceu muito a boa velha por sua ajuda, calçou as sandálias de pele de cervo e, sem saber como, foi parar na frente da casa onde tinha nascido. Uma vizinha aproximou-se ao vê-lo chegar. De cabeça baixa, disse a ele:
– É bom que você tenha voltado ninguém sabe o que vai acontecer com a sua mãe. Não sai mais de casa e enxerga cada vez menos.
O rapaz entrou correndo em casa, gritando:
– Olhe mamãe! Olhe logo! – E mostrou o pano que tinha guardado em baixo do seu casaco. O quarto se iluminou todo quando ele desenrolou o brocado.
Mas a mãe não respondia. Desesperado, o rapaz a procurou pela casa até vê-la, deitada no chão. Abraçou muito forte seu corpo, deitou-a na cama e chorando, olhou para o quadro de pano. Nesse momento, como por mágica, a mãe despertou.
Quando ela percebeu que seu filho tinha trazido seu quadro de volta deu um grito de alegria, no mesmo instante estava curada.
Pulou fora da cama, surpresa ao ver as forças lhe voltarem.
Olhou para o quadro e, de repente, estava enxergando muito bem. Depois rogou ao filho:
– Leve o quadro para fora, filho, para eu poder vê-lo melhor.
O filho levou o quadro até a luz exterior e o desenrolou. As cores brilhavam. De repente, houve uma ventania e o quadro foi se desenrolando mais longe, cada vez mais longe, até cobrir toda a paisagem em volta. Tão longe quanto se podia enxergar viam-se campos de milho dourado, manadas de ovelhas, nuvens de pintinhos amarelos correndo por todo lado, no meio de patinhos. Um belo jardim atravessado por um riacho e as mais lindas flores. Tudo na natureza era como no quadro. Das casinhas prateadas saiam, agora, os vizinhos maravilhados, não acreditando no milagre.
O filho pegou a mãe pela mão e a levou para o jardim. Foram devagar em direção ao lago, não se cansando de ver tantas maravilhas. De repente, o rapaz parou estupefato, o coração batendo a mil por hora. Perto do lago estava a fadinha miudinha de vestido vermelho a lhe sorrir.
– De onde você vem?
A mocinha pôs-se a rir, piscando os olhos. – Eu me bordei no quadro de sua mãe e você me trouxe junto. Já que o brocado tomou vida, meu lugar também é aqui.
A mãe olhou muito feliz: – Temos agora uma grande casa, com uma filha que me fazia falta!
A fada olhou para o rapaz e se aproximou dela: – Você me aceita como esposo?
Ela respondeu que sim, com um leve sinal de cabeça. Houve uma grande festa de casamento. Além dos vizinhos, a mãe convidou os mendigos da região. Os irmãos maiores souberam de tudo. Já fazia muito tempo que haviam gasto todas as moedas de ouro e, como estavam acostumados a serem alimentados pelos outros, tornaram-se mendigos. Mas, quando chegaram na casa e viram as mudanças que ali aconteceram, tiveram vergonha de suas roupas esfarrapadas e preferiram não entrar. Foram embora, perdendo-se no mundo.
O caçula, ao lado da mulher fada e da mãe viveu feliz por muito tempo, numa região rica e ensolarada. E essa família nunca mais deixou de acreditar nos seus sonhos. E foram todos felizes para sempre... foi assim que ouvi contar....!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Época de São Micael

Hoje- 29 de setembro - e nas próximas 4 semanas, até 25 de outubro, comemoramos a Época de São Micael - Arcanjo , chefe das milícias celestiais, que vem em nosso socorro quando invocado, e nos ajuda a combater nossos dragões interiores: o medo, a insegurança, a fraqueza, a desmotivação.
Nos ajuda a dissipar as sombras que nos envolvem e nos ajuda a descobrir nossa própria força interior, tornando-nos co-responsáveis pelas vitórias alcançadas. São muitos os dragões que nos afligem nesta época: as injustiças pessoais e sociais, a miséria física e espiritual, todos os níveis de violência , as doenças, o materialismo, o consumismo irresponsável. São Micael nos traz sua espada flamejante, como luz a iluminar nossas consciências no combate ás nossas próprias sombras. Que possamos descobrir e deixar brilhar em nossas almas essa força micaélica em nós !


CONTO : A PRINCESA E O CASTELO EM CHAMAS (Irmãos Grimm)

Era uma vez um homem que tinha tantos filhos quantos furos tem uma peneira. Todos os homens da aldeia já eram seus compadres. Ao nascer-lhe mais um filho, sentou-se na estrada para pedir ao primeiro transeunte que fosse padrinho da criança. Vinha então, descendo a estrada , um velho com um manto cor de cinza, ao qual ele fez o pedido, aceitou com prazer. Seguiram juntos o caminho, e o velho ajudou a batizar a criança. Deu, então, de presente ao pobre uma vaca e um bezerro nascido no mesmo dia em que seu afilhado. O bezerro tinha na testa uma estrela dourada e deveria pertencer ao menino. Quando o menino cresceu, o bezerro se havia tornado um enorme touro, e juntos iam ambos todos os dias, ao pasto. O touro sabia falar e quando chegavam ao topo da montanha, dizia ao menino:
-Fica aqui e dorme. Enquanto isso, vou procurar meu pasto.
Assim que o pastor dormia, o touro corria como um raio até o grande pasto celeste e comia flores douradas de estrelas. Quando o sol se punha, ele voltava para acordar o menino, e iam, então, para casa. Isto se repetiu todos os dias, até o menino alcançar a idade de vinte anos. Um dia, disse-lhe o touro:
-Senta-te agora entre meus chifres e eu te levarei até o Rei. Pede-lhe uma espada de ferro do tamanho de sete varas e dize-lhe que queres salvar sua filha. Logo eles estavam no Castelo Real. O pastor desceu e foi ter com o Rei; este lhe perguntou o motivo de sua vinda. Após ouvir a resposta, deu-lhe com prazer a espada desejada, mas sem muita esperança de poder reaver sua filha. Muitos jovens audaciosos tinham, em vão, ousado libertá-la. Ela fora raptada por um dragão de doze cabeças, que morava muito, muito longe. Ninguém podia chegar até lá, pois no caminho de seu castelo se encontrava uma serra imensamente alta, intransponível; e, mais além, um grande mar bravio. Adiante dele morava o dragão, em seu castelo de chamas. Mesmo se alguém conseguisse transpor a serra e o mar, ninguém lograria passar pelas chamas poderosas; e mesmo tendo-as vencido, teria sido morto pelo dragão. Quando o pastor obteve a espada, montou novamente entre os chifres do touro, e num instante eles se encontraram diante da serra imensa.
-Podemos voltar - disse ele ao touro, pois achava impossível transpô-la.
O touro rerspondeu-lhe:
-Espera apenas um instante !
E desceu o rapaz ao chão. Mal tinha feito isso, deu um impulso e moveu, com seus chifres poderosos, a serra inteira para o lado, e eles puderam seguir em frente.
O touro assentou o pastor novamente entre os chifres, e logo eles alcançaram o mar.
-Agora podemos voltar - disse o jovem-, pois ali ninguém consegue passar.
-Espera apenas um instante - retrucou - lhe o touro- , e segura-te bem em meus chifres.
Então inclinou a cabeça até a água e bebeu o mar inteiro, e assim, prosseguiram eles em chão seco, como sobre um gramado. Logo chegaram ao Castelo em Chamas. Mas, já de longe, sentiram um calor tão imenso que era quase insuportável ao rapaz.
-Pára! - gritou ele so touro - não vás em frente, senão vamos morrer queimados !
O touro, porém, correu até bem perto e cuspiu de uma vez por sobre as chamas, o mar que havia bebido, e elas rápido se apagaram. E logo uma fumaça enorme se elevou, enevoando todo o céu. Então, do vapor medonho, saltou o dragão de doze cabeças, enraivecido.
-Agora é tua vez - disse o touro a seu amo - vês se consegues cortar todas as cabeças do monstro de um só golpe !
Ele juntou todas as suas forças, tomou a espada poderosa com as mãos e golpeou tão rapidamente o monstro, que todas as cabeças rolaram ao chão. O animal se contorceu e se debateu contra a terra com tal força que ela tremeu. O touro apanhou o corpo do dragão com seus chifres, arremessando-o ás nuvens; e nada mais se viu dele.
O touro disse ao pastor:
-Minha tarefa chegou ao fim. Vai até o castelo, e lá encontrarás a princesa. Leva-a de volta a seu pai.
Tendo dito isto, correu para o gramado celeste, e o rapaz nunca mais o viu.
O jovem se dirigiu ao castelo, onde encontrou a princesa, que se alegrou muito por estar livre do terrível dragão. Regressaram ambos ao país da princesa, onde se casaram, e uma enorme alegria invadiu todo o reino.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

MOEDAS DE ESTRELAS - (do livro "Moedas de Estrelas e out ros contos dos I. Grimm" - Trad. Renate Kaufmann e Ruth S.M.Salles - Ed. Antroposófica )

Era uma vez uma meninazinha. Seu pai e sua mãe haviam morrido, e ela ficou tão pobre que não tinha sequer um cantinho onde morar, nem uma caminha onde dormir. Não lhe restava nada mais do que a roupa do corpo e um pedacinho de pão em sua mão, que um coração compadecido lhe havia dado.
Era porém uma menina boa e piedosa e, por estar sozinha no mundo, saiu pelo campo afora, depositando toda a confiança em Deus. Nisto, encontrou-se com um pobre homem que disse:
-Ah, Dá-me alguma coisa para comer. Tenho tanta fome...
Ela lhe ofereceu todo o seu pedacinho de pão, dizendo:
-Que Deus o abençoe para ti. - e continuou seu caminho.
Nisto, veio uma criança que se lamentava e que disse:-Estou com tanto frio na cabeça... Dá-me alguma coisa com que eu possa cobri-la.
Então a menina tirou o seu gorro e o deu a ela.
Tendo andado por mais algum tempo, apareceu de novo uma criança que estava sem corpete e sentia frio, e então ela lhe deu o seu; mais adiante, outra lhe pediu a sainha, e ela também entregou a sua. Finalmente chegou a uma floresta, e já estava escuro, e apareceu então mais uma criança que lhe pediu uma camisinha. A piedosa menina pensou: " É noite escura , e ninguém te vê. Bem podes dispor de tua camisa." E, tirando-a, também a entregou.
Estando assim, sem ter mais nada, eis que de repente caíram as estrelas do céu, e elas eram verdadeiras moedas, duras e polidas. E embora tivesse dado a sua camisinha, estava a menina vestida com uma outra, nova, de finíssimo linho. Nela, então, ela recolheu as moedas e ficou rica para toda a vida.
"Os contos infantis, com suas luzes puras e suaves, fazem nascer e crescer os primeiros pensamentos, os primeiros impulsos do coração. São também contos do lar, porque neles pode-se apreciar a poesia simples e enriquecer-se com sua verdade. E também porque eles duram no lar como herança que se transmite." ( Jacob e Wilhelm Grimm - 1812 )

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O PREGUIÇOSO - do livro Novas Histórias Antigas- de Rosane Pamplona e Dino Bernardi Junior - Ed. Brinque-Book

Trata-se de um antigo conto francês...

Era uma vez um fidalgo inteligente e de fino humor. Sempre fora servido por bons empregados, mas um dia contratou como seu criado um rapaz muito preguiçoso: todos os dias atrasava-se para começar o trabalho, espanava os móveis com má-vontade, esquecia-se de abrir as janelas para arejar a sala e de todas as tarefas desincumbia-se o mais displicentemente possível para ir logo descansar.
O fidalgo depressa percebeu que o serviço andava malfeito; esperou que o rapaz se corrigisse, porém sua preguiça parecia aumentar com o tempo.
Um dia, o criado simplesmente deixou de varrer a sala. O fidalgo, muito descontente, não teve alternativa a não ser chamá-lo á sua presença e inquiri-lo:
-Vejo que você não varreu a sala hoje. Isto lhe parece correto ?
-Perfeitamente, senhor - justificou-se o criado. - Afinal, por que varrê-la se daqui a algumas horas
estará suja novamente? Estou apenas poupando serviço inútil.
O fidalgo nada respondeu. Percebera que contra aquela lógica seus argumentos de nada valeriam. Assim, deixou que o rapaz se retirasse e esperou uma oportunidade para dar-lhe uma lição.
No dia seguinte, o criado levantou-se e, antes de começar suas tarefas, foi até a cozinha comer. Mas encontrou o guarda-comida trancado. Morrendo de fome, procurou o patrão e lhe disse:
-Senhor, creio que trancaram a porta do guarda-comida por engano. Eu ainda não comi nada esta manhã !
- Por engano? Não, não foi por engano, respondeu o fidalgo, mostrando-lhe a chave do armário. Eu mesmo o tranquei.
-Mas, senhor, estou com o estômago vazio...
- Compreendo, tornou o impassível patrão. Mas, pense bem: por que enchê-lo agora se daqui a algumas horas estará vazio novamente ? Afinal, estou apenas poupando-lhe serviço inútil...
E virando as costas, deixou o criado sozinho a meditar sobre a lição que acabara de receber.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sobre Contos-de-Fadas...

As histórias e contos-de-fadas trazem em seu conteúdo verdades que são um alimento para a alma dos pequenos.Eles se encantam com os elementos mágicos das imagens contidas nas histórias, e direcionam seu Espírito para valores essenciais, como responsabilidade, solidariedade, força interior. Por volta da pré-adolescência, ou, cada vez mais precocemente, a TV, a Internet, os jogos
de vídeogames ocupam o espaço das figuras simbólicas dos contos, e trazem para seu mundo anímico (da alma) personagens sem moral, onde prevalecem idéias da força bruta, do egoísmo, das guerras interestelares, povoado de seres estranhos e fabricados de acordo com a imaginação de seus criadores, nem sempre compromissados com a formação e o psiquismo das crianças que
os adotam como ídolos, onde , em seu imaginário, tornam-se, também super-poderosos, na busca pelo poder a qualquer preço, tomando o lugar de heróis verdadeiros , que tem em sua missão maior, a consciência de também serem responsáveis por um mundo mais belo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vou trazer alguns contos publicados por diversos autores, (sempre atribuindo os créditos) como forma de
resgatar a magia e a beleza da infância de todos nós!

A PEDRA DE RONDA -((Do livro Novas Histórias Antigas - Rosane Pamplona e Dino B. Junior- Editora Brinque-Book)

Há muitos e muitos anos, na cidade de ronda, ao sul da Espanha, apareceu, vinda não se sabe de onde, trazida não se sabe por quem, uma grande pedra na qual se lia uma estranha inscrição: "BENDITO E LOUVADO QUEM ME VIRE DO OUTRO LADO".
Os primeiros que encontraram a pedra apressaram-se a virá-la, desejosos de saber o que encontrariam. Porém, do outro lado, havia apenas uma inscrição, idêntica á primeira: "BENDITO E LOUVADO QUEM ME VIRE DO OUTRO LADO".
Alguns sentiram-se frustrados, ficaram aborrecidos; outros riram-se, divertidos, e logo acercaram-se novos curiosos, que, lendo a inscrição, também quiseram ver o que ali havia e novamente viraram a pedra, sem nada encontrar a não ser a mesma inscrição.
A partir daquele dia, a pedra ganhou fama. Todos que passavam por ali não resistiam e a viravam. Alguns diziam que ela era bendita, trazia sorte; outros, pelo contrário, que aquilo eram artes do diabo, feitiçaria! Mas a maioria achava mesmo que tudo não passava de uma brincadeira de algum desocupado. O fato é que, com o passar do tempo, a pedra foi ficando até lisa, de tanto ser virada prá cá e prá lá. E a inscrição já quase se apagava, quando um dia...
Um dia, um homem, um habitante de Ronda, viu-se numa situação muito difícil. Cheio de dívidas,
desesperado, já não sabia o que fazer, quando se lembrou da tal pedra. "Porque não tentar?", pensou. Afinal, desde que nascera, ouvia falar daquilo; quem sabe a pedra não poderia virar seu destino?
Cheio de esperanças, foi até lá e, com muito esforço, virou-a do outro lado. Mas, ai, desastre! A pedra caiu-lhe em cima do pé e quase lhe esmaga os dedos. Furioso, o homem esbravejou:
-Ah, bandida! Você me paga ! Nunca mais vai pregar peças em ninguém !
E ainda praguejando foi buscar uma marreta, com a qual, sem dó, bateu na pedra com toda a força .
A pedra partius-se ao meio e, oh, surpresa ! de dentro dela brilhou um deslumbrante tesouro. Trinta quilos de ouro, que ali haviam ficado escondido á espera de alguém que, por bem ou por mal, entendesse a mensagem: "BENDITO E LOUVADO QUEM ME VIRE DO OUTRO LADO...

Bem vindos !

Bem vindos à minha casa!
Neste espaço quero compartilhar com vocês muitas coisas que aprendi na infância e que hoje estão se perdendo em meio à agitação da vida moderna... bonecas de pano não são apenas companheiras , mas também simbolizam o aconchego, carinho e calor humano, histórias contadas por nossas avós, tudo aquilo que
alimenta a nossa alma !
Espero poder trocar experiências com as crianças de todas as idades ! Todo o meu carinho prá vocês !

Artes de boneca

Artes de boneca
Esta boneca é companheira das crianças a partir de 3 anos, e nos lembra a importância de ser criança em qualquer idade !

Pequeninos

Pequeninos
Este bebê em plush ou algodão é companheiro de crianças bem pequenas,quando elas começam a perceber sua imagem como seres humanos